terça-feira, 22 de julho de 2008

Desorientação

Na sexta-feira à noite, senti necessidade de sair à noite. Não que tivesse sítio para onde ir, mas depressa arranjei um.
Saí de casa perto das 22 horas, a caminho de um bar qualquer onde nunca fui. Andei meia hora às voltas, às voltas, em ruas e ruazinhas, becos estreitos e estradas esburacadas. Passei duas vezes no mesmo sítio, andei em contra-mão, com os faróis de outro carro apontados aos do meu. Ele na faixa certa, eu desorientado.
Ao fim de algum tempo, desisti. Não consegui encontrar o bar. Também não liguei a ninguém para me dar indicações. Atordoado, resolvi encontrar a estrada que conhecia... e esta levou-me a a casa. Estacionei, entrei em casa. Tu já não estavas.
Estou à deriva.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Confusão

Não sei porquê, mas as coisas desaparecem lá em casa. Quando nos lembramos, vamos à procura e zero. No outro dia, dei comigo a contar os meus álbuns de Iron Maiden. Já devia ter 15 dos muitos que editaram. Mas só tenho 14.
Falta o álbum ao vivo no Rock in Rio, de 2002. Procurei por tudo quanto é sítio e nada. O cd desapareceu, não sei dele.
Mas nem tudo é mau. No meio da confusão, encontrei dois filmes porno que comprei no primeiro Salão Erótico de Lisboa, em 2005. Logo à noite, já tenho que fazer. Pode ser que o álbum se junte à festa.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Crave

Do nada, lembrei-me da Sarah Kane e um um famoso excerto do "Crave" (Falta, na tradução portuguesa). Até a Bjork se inspirou nesta obra da dramaturga inglesa.

A- E eu quero brincar às escondidas contigo e dar-te as minhas roupas e dizer que gosto dos teus sapatos e sentar-me em degraus enquanto tomas banho e massajar o teu pescoço e beijar-te os pés e dar-te a mão e ir jantar contigo e não me importar se comeres do meu prato e encontrar-me no café e falar sobre o dia e passar à máquina as tuas cartas e carregar os teus caixotes e rir-me da tua paranóia e dar-te cds que tu não ouves e ver filmes bons e ver filmes maus e queixar-me da música que passa na rádio e tirar-te fotografias quando estás a dormir e levantar-me para te fazer café e torradas e deixar-te roubar os meus cigarros e nunca encontrar um fósforo e falar-te de um programa de televisão e não me rir das tuas piadas e querer-te de manhã mas deixar-te dormir mais um bocado e beijar-te as costas e tocar na tua pele e dizer-te que gosto do teu cabelo e dos teus olhos e dos teus lábios e do teu pescoço e dos teus mamilos e do teu cu e do teu...E sentar-me nos degraus a fumar até chegares a casa e preocupar-me quando estás atrasado e ficar surpreendida quando chegas cedo e dar-te girassóis e ir às tuas festas e dançar até à exaustão e pedir desculpa quando me engano e ficar feliz quando me perdoas e olhar para as tuas fotos e desejar que ter-te conhecido desde sempre e ouvir a tua voz ao meu ouvido e sentir a tua pele na minha pele e ficar assustada quando te zangas e dizer-te que és bonito e abraçar-te quando estás ansioso e cuidar de ti quando estás estás triste e querer-te quando te cheiro e atacar-te quando te toco e pedinchar quando estou contigo e pedinchar quando não estou e babar-me no teu peito e sufocar-te durante a noite e ter frio quando me roubas o cobertor e calor quando não roubas e derreter-me quando sorris e dissolver-me quando te ris e não perceber porque é que pensas que te rejeito quando não te rejeito como é que podes pensar que eu te rejeito e imaginar quem és mas aceitar-te na mesma e escrever-te poemas foleiros e perguntar-me porque é que não acreditas em mim e ter este sentimento tão profundo que não consigo encontrar palavras e querer comprar-te um gatinho de quem vou ter ciúmes porque lhe vais dar mais atençao do que a mim e obrigar-te a ficar na cama quando tens que ir e chorar com um bébé quando vais mesmo e comprar-te presentes que não queres e pedir-te em casamento e tu dizeres ´não' outra vez mas continuar a pedir porque apesar de pensares que estou a brincar estou a falar a sério e caminhar pela cidade e pensar que está vazia sem ti e querer o que ti queres e pensar que me estou a perder mas saber que estou segura contigo e mostrar-te o pior de mim e tentar dar-te o melhor de mim porque não mereces menos do que isso e responder às tuas perguntas quando preferia não responder e dizer-te a verdade quando não quero dizer a verdade e tentar ser honesta porque sei que preferes assim e pensar que acabou tudo mas aguentar mais dez minutos antes de me mandares embora e esqueceres quem sou e tentar aproximar-me de ti porque é bonito conhecer-te e vale bem a pena o esforço e falar contigo em mau francês e fazer amor contigo às três da manhã e não sei como não sei como dizer-te algum do esmagador indestrutível expansivo incondicional contínuo infinito amor que sinto por ti"
Ela matou-se passado pouco tempo.

Hein?

Às vezes, fico com vontade de ser argentino. Gostava mesmo de ser argentino, um daqueles chamado Diego qualquer coisa, charmosos como nos filmes, com uma voz colocada e peritos a dançar o tango. E dizer com uma voz sensual "Diego" sempre que uma rapariga me perguntasse o nome.
Dou comigo com vontade de ser distinto, de ser único, e não apenas mais um rapaz dos subúrbios, igual a tantos outros, com o mesmo casaco há quatro anos só porque não me apetece comprar outro. Gostava de não andar tanto de transportes públicos, de não me isolar lá no fundo com os olhos postos num livro e a segurar a lancheira. Gostava de não ser tão bicho do mato para as raparigas, de baixar as minhas defesas e de não ter tanto medo de ser magoado. Talvez assim tirasse os olhos do livro e recebesse algum sorriso bonito, daqueles de quem acabou de reparar em mim e até gostava de conversar comigo.Gostava de não ser tão exigente com as pessoas, que as compras servissem, de facto, para alguma coisa e afastassem os vazios.
Acima de tudo, gostava de não ser um Florentino Ariza. É disso que tenho mais medo, transformar-me num e andar por aí a espreitar em tudo quanto é sítio à procura dela. Eu não quero ser um Florentino Ariza, e não me posso transformar num Florentino Ariza. Mas esse é colombiano, não é?

terça-feira, 25 de março de 2008

Estou a ficar mais bonito e há que assumi-lo sem problemas e com naturalidade

Não há nada como uma ida ao centro de saúde da freguesia para levantar o astral e subir o ego. Acreditem. Se estiverem mal, o Serviço Nacional de Saúde cura tudo.
Lá fui eu hoje ao início da tarde levantar umas receitas da minha mãe. Má altura. O centro estava cheio de velhos e grávidas monstruosas, todos carregados com sacos da Sapataria Charles e da boutique Moda Jovem. Lá dentro, milhares de exames. A maioria dos velhos foi para lá de madrugada, com um frio brutal, conseguir a vaga do dia e cinco minutos de atenção. Já se conhecem todos e fazem concorrência com o número de maleitas.
Gajas boas, nem vê-las. As gajas boas não vão ao SNS, preferem clínicas privadas, com compressas esterilizadas e revistas actualizadas. É a mesma coisa com as repartições de Finanças. Não há gajas boas nesses locais, muito menos num balcão da Segurança Social. Elas não pagam impostos. Adiante.
Nunca vi pessoas tão feias como as que vi hoje. Na maioria obesas, com os dentes desalinhados, os cabelos mal pintados e os óculos sujos. E sempre com um broche na lapela do casaco, daqueles com rosas ou com as iniciais dos nomes. Essa é outra. Os nomes. Na maioria, nomes de santos. Não admira a Igreja estar como está.
No meio daquele cenário, lá estava eu, com o meu blazer de 50 contos, bonito, asseado e a cheirar a CK. Pela primeira vez na minha vida, senti-me a pessoa mais bonita no meio de dezenas.
É algo que constato com o avançar da idade. Modéstia à parte, estou a ficar cada vez mais bonito. Não tinha piada nenhuma na adolescência, mas estou a tornar-me num belo homem. Sempre que entro num elevador, olho-me ao espelho e não posso deixar de assumir isso mesmo. Sempre vi em mim muito potencial para ser um George Clooney. O homem era gordo enquanto adolescente. Nunca ninguém deu nada por ele. À medida que foi crescendo, transformou-se e, hoje, deixa as mulheres loucas. Acho que se vai passar o mesmo comigo. Daqui a uns anos, vou ser tão charmoso que até vai irritar. É o destino, não há como lhe escapar.

sábado, 22 de março de 2008

15 minutos

Se existem pessoas que invejo são as que correm. Na semana passada, cruzei-me com algumas pessoas no metro. Vinham todas da Meia Maratona, com os seus saquinhos vermelhos cheios de brindes e com os seus ténis de 100 euros. Todos com um ar feliz.
É coisa que já reparei. O ar feliz de quem corre. Sobretudo, naquelas publicidades da Nike e da Adidas, em que estão todos cheios de estilo a correr na mata, à chuva, com a sua roupa de corrida topo de gama, os ténis de 150 euros e o leitor mp3 da vanguarda. E ficamos cheios de inveja. Invejamos o ar libertador e a alegria daquelas pessoas. Acabamos por comprar os ténis de 100 euros e lá vamos nós correr, à procura da sensação de liberdade da publicidade. Conheço muita gente que adora correr e não passam sem aquilo. Ontem, foi a minha vez.
Fui a um desses parques cheios de trilhos, próprios para o desporto. Calçãozinho, ténis mais modestos, t-shirt da vanguarda, mp3... e lá fui eu. Aguentei 15 minutos. 15 minutos. E digo-vos, foram 15 minutos que nunca mais passavam. Porra. Quando cheguei aos oito minutos de corrida, já mal respirava. O empedrado dava-me cabo dos joelhos, o rabo estava mais pesado do que chumbo. Fiz duas voltinhas ao parque e parei. Já chegava. Hoje, as minhas pernas mal se mexem e sensação de liberdade nem a ver. Publicidade enganosa, é o que é.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Este post tem palavrões

Eu já desconfiava, mas só hoje tive a certeza. Ninguém faz um caralho neste país. Os meus perdões a quem se impressiona com a linguagem fálica, mas nenhuma outra serve neste caso.
Estava eu à espera do meu comboio, quando vejo imensas pessoas a chegar de Lisboa. Nem hora do almoço era. Vinham apressadas, como uma manada desenfreada. Qual a razão de tamanho reboliço? Três. O equivalente a três palavras, as preferidas dos portugueses: "tolerância de ponto". Ficam doidos, desatam a sorrir, metem-se nos carros e lá vão a toda a velocidade passar o fim de semana para fora. Vão para a neve, para a montanha, para o Alentejo e para o caralho que os foda, montados nos seus monovolumes, com os putos sem cinto e a toda a velocidade. Depois fodem-se, batem com a chapa nas árvores e lá vão todos para o galheiro.
Ao invés, no local onde normalmente almoço aos feriados e fins de semana, lá estava a menina brasileira simpática que me sorri sempre, pois já se habituou à minha presença. Alguém tem de trabalhar nesta merda, não é?
Ainda hoje, mal cheguei ao meu local de trabalho, encontrei tudo em reboliço. Não que estivessem a trabalhar. Estavam a marcar as férias e já programavam o que só vai acontecer daqui a uns meses.
Já o disse e reafirmo: os portugueses não fazem um c-a-r-a-l-h-o. Nada. Não gostam, não querem. Fazem greves à sexta-feira, marchas da indignação quando andam a levar porrada nas aulas...
Os funcionários públicos são o cancro disto tudo. Reclamam aumentos, queixam-se, queixam-se, mas não fazem um caralho. E é só ouvirem as três palavras mágicas e sorriem de imediato. É por isso que nunca vamos passar da cepa torta. Porquê? Porque os portugueses não fazem um...

segunda-feira, 17 de março de 2008

A vida está cara

Eu já a esperava e preparei-me mentalmente para o que aí vinha. Hoje, assim que abri a caixa do correio, lá estava ela: a conta do telemóvel. Pelo tamanho do envelope, percebi logo que a factura não ia ser meiga. E não foi. 116 euros.
Tal verba resultou de um mês de Fevereiro preenchido com vários telefonemas e mensagens de cariz amoroso e fofucho. O ritual da sedução tem o seu preço e um homem tem de se sujeitar a estas coisas. Não há como escapar, caso contrário, não terá sorte nenhuma.
Ela abusava imenso das SMS. Eu respondi sempre. Assim, não admira as 151 SMS enviadas para ela em pouco menos de um mês. A dez cêntimos cada (sim, o meu pakot foi logo à vida), gastei quase 20 euros em mensagens escritas. A maioria era perfeitamente evitável, com contéudo pobre e amoroso, do tipo "beijinho" ou "gostas de mim". Não era preciso tanto.
Além do dinheiro em comunicações, há ainda a registar todas as despesas em gasolina, portagens e refeições. Nem ouso quantificar tais gastos.
E tudo para quê? Para quatro cambalhotas, de duração algo curta e com amimalho a mais. Deu qualquer coisa como 30 euros a berlaitada. Cedo percebemos que aquilo não ia a lado nenhum. E em boa hora. Já me estava a ver a trabalhar à noite para custear as minhas aventuras. Não só me ia matar algum tempo, como a minha pujança física ia ser muito menor. Ela arranjava outro na hora.
Mas pronto, acabou e isto está a voltar ao normal. É nestas alturas que me lembro de Adam Smith, o "pai" da economia que, um dia, escreveu "não existirem almoços grátis". Não existem. Ao invés, Adam Smith devia ter escrito "não existem relações grátis". Pois não. É por estas e por outras que não tenho namorada. Acasalar sai muito caro.
E lá se foram os ténis de corrida. Eu também não ia correr, de qualquer forma.

domingo, 16 de março de 2008

Sem título

Sou uma pessoa complexa, rapaz de muitos defeitos. Falta de humildade, egoísmo, etc. Mas uma das minhas principais características é o facto de ser um "boca podre". Sou mais alcoviteiro do que muita velha abelhuda que para aí anda. Talvez por isso tenha escolhido esta vida. Adoro uma boa novidade, uma fofoca. Sou incapaz de guardar segredos. Mesmo quando algo acontece comigo, partilho-o com meio Mundo. Não adianta, sou assim. Quando criei este blog, só queria escrever, escrever o que me ia e vai na alma, como uma espécie de refúgio. Mas o espírito alcoviteiro é e foi mais forte do que eu. O que era suposto ser secreto, depressa passou a ser público. Contei a uma, a outra, àquela e ainda mais àquela. Estes, por sua vez, fizeram o mesmo. E, apesar de quase não ter comentários, sei que muito boa gente perde muito do seu tempo útil a ler este pasquim. Assim, fico perante uma encruzilhada. Escrevo ou não escrevo? Partilho ou não partilho?
Ultimamente, dou comigo a perguntar algo que já não perguntava há alguns meses e cuja resposta ainda não encontrei: Como se esquece um grande amor?
Será possível mesmo esquecer ou apenas acabamos por não o lembrar? Esta semana, dei comigo a ler um livro. Às tantas, o autor escreveu "não há amores como no passado e esses nunca se esquecem". Ando a pensar nesta frase. Como se esquece? E, mais importante, quanto tempo demora? Não há pior coisa do que ter uma recaída e, ainda para mais, quando foi outra pessoa a provocar essa mesma recaída. Damos connosco a pensar sempre nas mesmas coisas, numa laranja mecânica que anda, roda, volta a andar, volta a rodar e termina sempre no mesmo sítio. Voltei a recordar-me dela há umas semanas. E aconteceu quando eu menos previa e no local onde nunca deveria acontecer. Mas aconteceu. E agora? Como se esquece? Como se põe uma pedra no assunto quando já fizemos tudo para isso e, simplesmente, não somos capazes? O que é melhor? A revolta ou a resignação de que nada podemos fazer?
Às vezes, gostava mesmo de ser como algumas pessoas que conheço que andam de amor em amor com uma facilidade incrível e, às tantas, acabam quase por os sobrepor. Não sou assim, mas gostava de ser assim. Era tudo mais fácil. Mas não sou assim. Foda-se!!

sexta-feira, 14 de março de 2008

Divagações

Não estar apaixonado é das sensações mais estranhas que há. Por um lado, é fantástico. Não estamos presos a ninguém, fazemos o que queremos, em paz, e não corremos o risco de um desgosto. Mas, por outro lado, retira-nos o "sal" da vida, a emoção, o sentimento. Se somos assim um pouco para o melancólico, deixa-nos ainda mais estranhos. Mas... é mesmo possível não estar mesmo apaixonado?
Pergunto-me isso algumas vezes. Eu acho que não estou apaixonado, mas não tenho a certeza. Nenhuma rapariga me faz suspirar, mas o coração ainda bate mais forte e fica indeciso quando se confronta com o passado. E basta um sorriso, seja sincero ou cínico, para pôr algumas coisas em causa. Depois entram em cena as insuficiências emocionais e damos connosco quase à beira de fazer merda da grossa. Esquecemos as coisas más (ou pelo menos não nos lembramos) e quase tomamos a iniciativa de tentar reanimar o que já morreu há muito.
Quando não se está bem, qualquer migalha serve. Nem que, para isso, tenhamos que pôr todo o orgulho e dignidade de volta. Mas não se preocupem. Não fiz nada.
Acho piada àquelas pessoas que dizem..."quero muito que sejas feliz." Não querem nada. Eu, pelo menos, não quero. Não sou Jesus Cristo e não desejo a felicidade a quem me fez sofrer. Bem sei que temos de nos preocupar mais connosco e isso, mas, quando as coisas não saem do sítio, já não ficamos mal se a felicidade não estiver no outro lado.
Para mim, a pior coisa são os cheiros. Os objectos guardam-se. Os locais evitam-se. Mas basta um cheiro para resgatar todas as recordações. Os aromas dão cabo de mim. Fazem-me parar na rua, se for preciso. Hoje, por exemplo. E depois? É respirar ar puro o mais rápido possível e esperar que passe. Não há muito mais a fazer.
Talvez uma amiga minha tenha mesmo razão. Não tenho namorada, mas ainda não me habituei... a não ter. E, enquanto isso não acontecer, o melhor que tenho a fazer é respirar pela boca.

Tédio

Há coisas que não consigo perceber. Quando chega aquela altura da nossa vida em que queremos e precisamos da emancipação? Sair da casa dos pais e começar outra vez noutro local qualquer? O que é preciso para esse dia chegar? Quais os parâmetros que precisamos de preencher para essa certeza interna?
Nos últimos anos, deixei de conhecer e de me reconhecer na minha terra. Já não conheço isto. Caminho na rua e tudo me parece frio, distante. As ruas são as mesmas, mas tudo o resto mudou. As árvores já não têm folhas, como que a partilharem a minha tristeza. Ainda hoje, enquanto aqui andava, observei imensa gente e percebi que já não conheço ninguém. Nem eles me conhecem a mim. De certa forma, fomos invadidos. Isto deixou de ser meu.
Bastou-me regressar a Castelo Branco para perceber que não tenho raízes nenhumas com este local. Nada. Em tempos tive. Hoje, nada me prende aqui. Não fosse a eterna falta de dinheiro e já cá não moraria. Preciso de um desafio que me faça sair daqui, pois o sentimento de não pertencer já o tenho.
Não é à toa que prefiro trabalhar. Um dia de folga é mais um dia de tédio, rodeado de pessoas que não conheço ou que deixei de conhecer. Ou muito engano, ou não voltarei a colocar os pés quando abandonar este lugar. E não vou sentir a mínima falta.

Signos

Percebo muito pouco de signos. Quase nada, para ser sincero. Mas muitas pessoas acreditam. Uma colega minha, por exemplo, é meio esotérica. No outro dia, no bar, perguntou-me qual era o meu signo. Respondi-lha: "Peixes". Após alguns segundos pensativa, ela disse...
"Vocês são a coisa mais fácil de levar. Românticos como tudo, deixam-se levar com facilidade. Quando estão bem, são as pessoas mais fantásticas com quem estar. Contentam-se com pouco e esse pouco chega para serem felizes. Quando não estão bem, são os mais neuróticos do Mundo. Além disso, têm muito azar no amor, mas sorte ao jogo."
Fui jogar no Euromilhões uns minutos depois. Vamos lá ver.

Pianos

Como pessoa muito informada que sou, ando atento ao fenómeno musical. No meio de tanto vídeo na MTV e no VH1, estou banzado com o piano da Alicia Keys. Ela junta os amigos todos na rua, à chuva, aos gritos pela nova paixão dela e mesmo a chover imenso, o piano não pára. Incrível. Já o vocalista dos One Republic parece estar a defecar enquanto toca no piano dele. Nunca repararam? Ou serei só eu?

domingo, 9 de março de 2008

24

O grande problema dos blogues é a tentação de mostrar a todo o Mundo o que escrevemos ou o que sentimos. Se assim não fosse, nunca os textos estariam disponíveis à distância de um clique. Estariam num cofre ou numa caixa qualquer, como fazemos como as nossas recordações. Ficam guardadas num sítio bem recôndito da casa, onde não tenhamos a tentação de as resgatar, como se nos quiséssemos esquecer que ali estão. No fundo, fazer o mesmo em relação à nossa vida. Até que chega uma altura em nem reparamos, mas damos com a caixa. Abrimos, vemos o conteúdo, lemos o que não devíamos ler, ouvimos o que não devíamos ouvir e tudo se complica.

Esperei muitos meses pelos 25 anos, como se fosse um dia mágico que ia mudar toda a minha vida. Como se deixasse de ser um miúdo e passasse a ser um homem já feito. Mas nada disso aconteceu. Já com o quarto de século, damos por nós numa introspecção sem fim, isolados, alheados do resto do Mundo, sem vontade de sair ou estar com alguém. Ficamos aprisionados com o passado, em constantes pensamentos e com receio do futuro. É assim que me tenho sentido nos últimos tempos. O entusiasmo de sair desapareceu. Não tenho grande dinheiro, mas nem é essa a grande razão. Percebi que não sou capaz de arriscar, que sou um bocado cobarde em relação a isso. Sou daqueles que vê os dias passar uns atrás dos outros, sem que isso traga algo de fantástico. Trabalhamos, cumprimos, estamos lá todos os dias, mas não sentimos o devido valor. Aos poucos, vem a acomodação e com ela a estagnação.

O pior de tudo é o passado. E é aqui que não devia mostrar ao Mundo o que realmente sinto. Porque a questão é exactamente essa. Não sei o que sinto. Não sei sequer que sinto. É angustiante estar com uma pessoa sem realmente estar. Sem sentir nada, sem sentir os lábios na nossa boca ou o toque na nossa pele. Porque a cabeça está noutro lugar. E percebemos que não é aquilo que queremos. Essa acabou por ser a única certeza que tive ao longo destas semanas. A certeza que tive naquele beco enquanto me dirigia para o meu carro, convicto que não era aquilo que eu queria e que tudo estava errado. Aí, foi o passado que apareceu, depois de muito tempo escondido, latente, enganando-me a mim próprio.

Depois vem o dia desejado, o dos 25, mas sem grandes euforias. E, com ele, vem o silêncio, um silêncio natural, esperado, mas sempre duro. Nunca nos acostumamos a esse silêncio, por mais que haja muito barulho e as pessoas cantem o nosso nome. Há alegria, mas não deixamos de sentir uma certa angústia. Por não sentir. E com isto tudo regressa a desorientação, as eternas dúvidas e os fantasmas a assombrarem uma casa que já não se assusta.

sábado, 8 de março de 2008

Café da Colombia

Não conheço pessoa com maior desgosto amoroso do que a Shakira. Talvez a Dido.
A colombiana até já se casou ou vai-se casar, mas tal não se nota na música dela. Por mais ritmo que tenha, gira tudo à volta de um cabrão qualquer que a fez sofrer, que enganou o pobre coração dela, apesar da grande intuição dela, etc, etc.
De certa forma, até me acho parecido com ela. Só não abano as ancas. Era bom.

sexta-feira, 7 de março de 2008

25

Algumas semanas e quatro cambalhotas depois, decidi voltar a escrever. E faço-o já com o estatuto do quarto de século: fiz 25 anos. Acabei por entrar no dia do meu aniversário ainda em Alvalade, onde fiz o meu Sporting-Benfica.

E só para quem não reparou, na semana do meu aniversário, dois canais diferentes exibiram em dias diferentes os dois filmes do Predador. Não há coincidências.

Para o ano, quero a Força Delta.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Dúvidas

Esqueçam tudo o que escrevi no início do blogue. Tudo, excepto o que diga respeito ao Predador. De resto, ponho tudo em causa!

PS - Já agora, também não esqueçam a cena do animatógrafo do Rossio...

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Pior do que as gajas

Muitas amigas minhas dizem-me que sou pior do que as gajas. Talvez seja. Já tive a minha fase de cremes e perfumes, mas deixei-me disso. Sou demasiado preguiçoso. Cheguei a comprar leite corporal com cheiro a laranja em Madrid e acabei por o dar à minha prima no Natal.
Mas se há coisa que não dispenso é uma ida ao cabeleireiro. Há quem goste de ir a um bar de alterne ou ao cinema. Eu gosto de ir ao cabeleireiro. E pago o que for preciso. Tendo em conta que vou a Paris amanhã, resolvi ir ao cabeleireiro hoje. E notem que assumo ir ao cabeleireiro, não sou como aqueles machões que vão ao barbeiro.
Para mim, a qualidade de uma cabeleireira é proporcional ao número de tatuagens que tem. Há coisa de um ano, uma holandesa mamalhuda com um dragão tatuado cortou-me o cabelo e aquilo foi uma experiência orgásmica. Sempre que ela se chegava à frente, atingia-me com uma daquelas armas, tão mortífera quanto apetitosa.
Hoje, resolvi ir a um desses da moda. Atendimento cinco estrelas, cadeirinha de massagem e cabelinho lavado por uma jovem de corpo firme e tatuagem na anca. Nunca me senti tão giro como hoje. Até cera trouxe de lá para moldar o meu couro cabeludo. Caraças, isto para mim é como fumar um cigarro depois de dar uma trancada. E eu nem fumo.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Hoje foi mais um daqueles...

Nunca contei qual é o meu momento preferido da semana. Pois bem vou revelá-lo. O melhor momento da minha semana é quando saio do jornal aos domingos e vou para casa a conduzir com os vidros abertos, a deixar entrar todo o ar e a respirar. Nunca penso tanto como nesse momento..
Hoje foi mais um daqueles dias. De manhã à noite. Cortesia do senhor Quaresma, saí tardíssimo do estádio. Hoje, fiz o meu primeiro clássico com o Sporting. Ninguém acreditava, mas ganhámos 2-0 ao F. C. Porto. Tive pena de não estar na bancada. Teria gritado aqueles golos.
Mas não vou recordar este dia apenas por isso. Foi hoje também que vi o Novak Djokovic, um dos meus tenistas preferidos, a vencer o Open da Austrália com apenas 20 anos. Sem esquecer a grande feijoada do almoço. Tudo de bom, portanto.
Com tanto trabalho, nem tenho conseguido escrever. E acreditem, tenho tanto para escrever! Talvez seja esta semana. Vamos ver.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Aguentar

17 de Janeiro de 2008, meio dia. A data oficial em que me passei dos cornos. Já andava a adiar este momento há muito tempo mas foi hoje. Cá vai: estou, oficialmente, frustrado, desiludido e fodido. E já que muita gente anda chocada com a quantidade de palavrões que digo, resolvi ter o proveito, já que fama não me falta. Este país é uma merda.
Terminado o ano de isenção de descontos para a Segurança Social, pedi um aumento. Foi-mo prometido e, até hoje, zero. Talvez a culpa tenha sido minha. Afinal, deram-me um aumento de trabalho. Expliquei-me mal. Entretanto, os meses foram passando e dinheiro zero. Hoje, fui finalmente à Segurança Social inteirar-me da minha situação. Pelas minhas contas, devo estar seis meses em falta, sete se contarmos com Janeiro. Quase 1000 euros, pelas minhas contas. Cansado de esperar, lá fui ao balcão. Ao meio dia, disseram-me que o meu nome nem consta do sistema. Ou seja, para matérias de Segurança Social, não existo. Como pode ser? Simples. Inscrevi-me e os serviços nunca me puseram na base de dados. Esqueceram-se! Agora, para poder pagar o que tenho a pagar, preciso de um número de beneficiário que só os serviços de Setúbal podem criar. Até lá, mãos e pés atados.
Realmente, este país é uma anedota. E das más. Estou a recibos verdes, não tenho rendimentos fixos e sou obrigado a pagar todos os meses, quer tenha rendimentos ou não. E porquê ter de pagar? Porque, se não o fizer, não terei benefícios fiscais nenhuns e as minhas retenções de IRS, feitas com muito sacrifício, vão com o caralho. Supostamente, pagar a Segurança Social é acautelar o meu futuro, a reforma. Nem me consigo ver com condições de comprar uma casa, quanto mais uma reforma.
Um ano inteiro de trabalho, de sacrifícios, de vestir uma camisola para isto. Ficar com a conta quase na penúria, enquanto aguardo por algo que não vai chegar. Imunes a tudo isto, os meus colegas (e não falo dos de secção, salvo uma excepção) continuam nas suas vidinhas de merda, sem fazer um caralho, a colocarem sucessivamente baixas e assistências à família porque, pura e simplesmente, não querem fazer nada. Adoro alguns dos meus colegas. Sabem os direitos todos, os deveres nem por isso. Eu, feito otário, dou o litro. Talvez por isso seja capitalista. Se mandasse, fodia-os todos.
E hoje, após uma manhã passada entre Segurança Social e Finanças, voltei a sentir-me velho. Eu tenho 24 anos. Devia andar por aí a divertir-me, a beber, a viajar, a descobrir e a atirar-me a tudo o que é gaja. Mas não. Ando a sacrificar-me para isto. Nunca um "nick" do messenger fez tanto sentido: vão para o caralho.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

O taxista

Nesta profissão, anda-se sempre de um lado para o outro. É raro haver um minuto de sossego. Grande parte das viagens para serviços são feitas em táxis, sempre a deambular pela cidade de Lisboa. Já perdi a conta aos taxistas que conheci. Às vezes, até os repetimos e eles reconhecem-nos sempre. No outro dia, no Restelo, o motorista assim que me viu perguntou: "Então, mais um jogo?".
Já apanhei de tudo. Gajos com paus junto ao banco do pendura para agredir os funcionários da EMEL, outros com televisão dentro do carro para ver futebol, mulheres que deixaram uma carreira no escritório para ganhar dinheiro a conduzir o carro. Há quem já tenha confessado homicídios, mas essa, infelizmente, não foi comigo.
Hoje, lá fui novamente. Assim que entrei no táxi, o taxista puxou logo conversa: "Então, este tempo... está frio." Pois estava. A aborrecer-me, puxei de um rico tópico de conversa, tendo em conta que ia a caminho de Carcavelos e a viagem ainda era considerável. "Estas mulheres de hoje..."
O que é que eu fui dizer! Do nada, o taxista contou-me toda a vida amorosa. Com muita caralhada pelo meio, falou-me do amor da vida dele, dos tempos da tropa e das traições dela, até do casamento falhado. Com 41 anos, disse-me que nunca amou ninguém como a primeira namorada, uma Manuela, mas que a desilusão foi tão grande que nunca mais se prendeu. Foi dele a decisão de terminar o casamento com outra mulher, muitos anos depois. Durante o diálogo, recordou algumas mulheres que transportou para enganarem os maridos, etc. O taxista soltou autênticas pérolas como "Se vir a minha ex-mulher na rua, nem lhe falo", "As mulheres são todas uma merda", "As únicas mulheres que respeito são a minha mãe, irmã e filha"e, a minha preferida, "as mulheres não amam, têm interesses". Foi, de longe, uma das melhores viagens que já fiz.
Nisto, partilhei-lhe a minha história e não omiti a proximidade geográfica com a defunta. "Foda-se, isso é muito fodido!", respondeu ele. Pois é. Enquanto contava a minha história, ele ia-me dando conselhos, no alto da sua sapiência. Retive este: "Isso nunca vai passar. Enquanto ficamos lixados e na merda pelo fim da relação, elas arranjam outro em menos de nada. São cruéis. As mulheres estão cada vez mais frias. E cheias de merda na cabeça. Mas não te preocupes. Voltam sempre. E aí... só tens de lhes dar sopa." Ah grande careca!

domingo, 13 de janeiro de 2008

Enfim...

Enquanto a maioria dorme, eu já comecei o meu dia de trabalho. E com muita chuva à mistura.
Hoje, é mais um daqueles dias que o relógio parece não andar. Em que o trabalho é cada vez mais e, mesmo assim, os ponteiros parecem sempre na mesma.
Nunca mais acaba...

sábado, 12 de janeiro de 2008

A sexta-feira

Como já escrevi, vivo ao contrário das outras pessoas. Pelo menos, sinto isso. Enquanto a semana começa à segunda-feira para a maioria, a minha começa à sexta. Deve ser por isso que detesto o dia.
A sexta-feira à noite é encarada como uma noite de folia, após uma semana de trabalho. As pessoas saem, bebem, divertem-se e chegam tarde a casa. No meu caso, é o contrário. A sexta-feira à noite é quase sempre passada em casa, pois, no dia seguinte, há trabalho para fazer e geralmente começa-se de manhã.
Talvez por isso, as sextas-feiras à noite costumam ser a minha altura introspectiva. Quando estou no quarto, com tudo apagado, e penso mais na minha vidinha. É na sexta-feira à noite que mais me sinto vulnerável, mais susceptível a tudo, sobretudo aos passos. É nessa altura que me questiono se tanto sacrifício vale a pena, se alguma vez vou cumprir os meus objectivos...
É á sexta-feira que mais penso no passado, nas coisas que fiz e nas que não fiz e devia ter feito. É aqui que me apercebo do que cresci ou do que devia ter crescido. Crescer é das coisas mais complicadas que existem, descobri eu. Primeiro estamos na escola, depois passamos para a faculdade para, de seguida, começarmos a trabalhar. E vamos crescendo, sempre a sentirmos a expectativa a subir. Nisto, vou-me deitar e peço que aquela noite termine o mais rápido possível. Até que chega a manhã de sábado, como hoje, em que acordo e me preparo para mais um dia de trabalho, enquanto a maioria ainda dorme, a recuperar de uma noite de regabofe. Às vezes, isto aborrece-me.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

A farmacêutica

Há uns meses, uma menina começou a trabalhar na farmácia ali no cimo da rua. Pequenina, morena, de sorriso bonito e olhar doce, cedo me chamou a atenção. Conduzia um Polo, daqueles cheios de peluches. Típico das meninas doces que se soltam quando levadas para a mata. Durante o Verão, usava uns crocs rosinha e a bata revelava um pouco o peito. Comecei logo a frequentar mais a farmácia. Comprar pastas e escovas para os dentes passou a ser tão frequente como ir ao pão e ao leite.
Às tantas, já nem isso chegava. Certa manhã, pus a minha melhor camisa, o meu melhor relógio e enchi-me de perfume. E parti determinado rumo à farmácia... para ela me medir a tensão. Pus o meu ar mais cansado possível, de forma a ter a atenção dela. Nisto, o meu corpo traiu-me. A puta da tensão arterial estava óptima. Fiquei atrapalhado e logo comecei a dizer que andava a dormir pouco, que tinha um trabalho exigente e tudo isso. As respostas dela não passaram do "Pois...", mas depois fez-me uma pergunta que jamais esquecerei. "Tem tido hemorragias?". A imagem do sangue cortou o momento.
Andei uns tempos sem a ver. Até julguei que tinha ido para outro sítio. Voltei a vê-la há umas semanas, de carro diferente, mas ainda um Polo. No fundo, também não a estou a ver conduzir outro carro que não seja aquele.
Hoje, quis o destino que nos encontrassemos na FNAC, na livraria de autores portugueses e traduzidos. Eu vi-a primeiro, mas também não demorou muito para ela reparar em mim. Ao princípio, ficámos ali feitos estúpidos a ver os livros, como se fossemos muito inteligentes. Eu bem reparei que ela se ia aproximando de mim gradualmente. Estava bem gira sem a bata. Uma camisola de malha justa, cachecol enrolado ao pescoço, aqueles cabelos castanhos soltos e uns jeans justos a revelar uma bela pandeireta, embora a necessitar de algumas aulas de RPM. A julgar pelo comportamento, diria que não tem namorado. Sejamos sinceros: eu ficava-lhe bem e ela a mim.
Enquanto a observava, peguei num livro do Pepetela qualquer, armado em intelectual. Naquele momento, senti-me como se estivesse na paragem de autocarro à espera da Sandra. Tremia por todo o lado, inseguro, sem saber o que fazer. Nisto, enchi-me de coragem e cumprimentei-a. Ela respondeu. Nisto, ficámos ali sem saber o que fazer. Notei o mesmo da parte dela. Lá voltei a insistir. "Então, o que procuras?". Resposta sábia: "Um livro". A sério?!! Vi logo a coisa mal parada. Nisto, joguei mais uma cartada e voltei a fazer merda como no dia da tensão arterial. "Este livro é muito bom. Dá-te uma visão diferente do que são as relações. Mas é giro", disse eu, todo vaidoso. O livro era "O Amor é fodido", do Miguel Esteves Cardoso. Foi uma jogada de mestre. Que raio terá ela pensado? Ainda pegou no livro e nisto soltei outra pérola. "Tens sempre a Margarida Rebelo Pinto", afirmei eu à espera de um sorriso. "Pois", disse ela, sem sorrir. Ali percebi que tinha deitado tudo a perder. Depois, começou a fase dos telemóveis. Acontece sempre que estamos no meio de uma situação e não sabemos o que fazer. Pegamos no telemóvel e fingimos estar a ver as mensagens. Eu peguei primeiro e enviei uma mensagem de socorro. Ela pediu depois e foi um espanto ver um koala de peluche ou lá que merda era aquela pendurada no aparelho. Minha nossa, ou a gaja é mesmo difícil ou é mais enconada do que eu. Numa jogada de desespero, meti os meus dois portáteis no chão (sim, tinha comigo dois portáteis!) e pus-me a ver um livro qualquer, enquanto exibia o meu Tissot novo. Ela não reparou. Que raio de gaja não repara num relógio Tissot? Sinceramente, não as percebo.
E pronto, lá foi cada um para seu sítio sem despedidas. Definitivamente, eu não sei lidar com mulheres. É melhor estar quieto de uma vez e parar de fazer figuras tristes. Assim foi. E assim terminou a minha linda história de amor com a farmacêutica, e que nem chegou a começar.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

O primeiro amor

Costumam dizer que não há amor como o primeiro. Que não há amores como os do passado. Quando essas pessoas reaparecem na nossa vida, tudo treme. Pomos tudo em causa.
Vem isto a propósito do meu primeiro amor. Hoje, passados mais de dez anos, acho que o meu primeiro amor definiu muito a forma como lidava e ainda lido com miúdas sempre que me interesso por alguém. Resumindo e concluindo: o meu primeiro amor foi uma merda.
Ela chamava-se Sandra (penso que ainda se chama). Uma morena magrinha de sorriso fácil. Morava na Amora, filha única de um senhor metido nos negócios de confeitarias. Fazia anos a 31 de Agosto. Signo Virgem. Nunca me esqueci disso.
Apaixonei-me pela Sandra com 15 anos, andava eu no 9.º ano. Foi numa ida ao cinema com muita gente. No auge do meu excesso de peso, vesti uma camisa e lá fui todo pimpão. A partir daqui começaram as figuras tristes. Minha nossa, era tão tanso. Escrevia-lhe postais, enviava mensagens anónimas românticas para o telemóvel, chegava a esperar horas na paragem do autocarro à espera do 113, o que vinha de Paio Pires. E, assim que ela descia, os meus olhos brilhavam. Numa tarde, andava com um amigo à procura de um postal para lhe oferecer. Azar dos azares, acabei por a encontrar na rua. Fiquei tão eufórico que me pus aos saltos na via pública a gritar "É ela! É ela!". Ainda hoje sou gozado. Com tanta merda que fiz... consegui afastá-la. Ficou-me com uma aversão. Recordo-me quando recusou ir ao cinema comigo alegando que "tinha natação".
Quis o destino que nos juntássemos na mesma turma, no 12.º ano. Foi a pior coisa que me fizeram. Como sou todo romântico e daqueles desesperados que sofre imenso, as minhas notas desceram imenso. Não consegui entrar numa faculdade de Lisboa por causa dela. Foi nesta altura que ela conheceu o primeiro namorado, um traste de alcunha "Belém", com um problema de prisão de ventre, como o próprio assumia. Recordo-me de estarmos na viagem de finalistas, em Palma de Maiorca, e de ver a Sandra chorar com saudades dele, enquanto ele copulava furiosamente com uma gaja qualquer durante a ausência dela. A Sandra faltava às aulas de Sociologia para acasalar com o "Belém". Perdeu a virgindade. Ele era tão boa pessoa que contou tudo aos amigos, incluindo o tamanho invulgar da vulva dela.
Fiquei doido quando ela me convidou para irmos juntos ao baile de Finalistas. Ainda por cima na noite do meu aniversário. Eu sabia que era a última escolha, mas que se fodesse. Eu gostava mesmo daquela gaja. Vesti um fatinho todo catita, comprei um ramo de rosas vermelhas e lá fui buscá-la a casa como nos filmes. Ela estava linda, de vestido cinzento, boa todos os dias. O baile foi uma merda. A nossa dança durou dez segundos, os suficientes para pisa-la duas vezes. Aproveitou o ex-namorado para me mostrar como se faz. Não se largaram o resto da noite, enquanto eu não tinha outra solução que não fosse beber. Às cinco da manhã, a Sandra saiu com ele e nem de despediu de mim. Cabra.
A última vez que vi a Sandra foi há coisa de dois anos, num centro comercial. Continuava morena, gira e de sorriso fácil. Estudava Direito. Namorava com um professor de natação. Resumindo e concluindo, o meu primeiro amor foi por uma gaja arrogante, estúpida como a merda, com a mania que era boa e com notas péssimas a Psicologia. Mas com uma vulva grande, a acreditar nas palavras do "Belém". Realmente, bem notei uma protuberância na zona pélvica do biquíni dela, durante uma ida à praia, em Maiorca. Que pena não ter visto mais detalhadamente. Talvez, um dia, a Sandra reapareça. Como um grande amor do passado. E com uma vulva exagerada.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Ídolos

Todos nós temos os nossos ídolos. Personalidade que admiramos e vemos como exemplo. O meu é o Predador.
O "Predador" é, de longe, o melhor filme de todos os tempos. É a criatura mais espectacular alguma vez criada no cinema. Mas, para mim, é muito mais do que isso. Acredito que o Predador existe mesmo. Eu, se não fosse quem sou, era o Predador.
Adorava andar por ai camuflado com todas aquelas armas catitas que ele tem. Fazia uma lista interminável de alvos e despachava-os com arrogância. Metade do Mundo ia a andar.
No outro dia, vi um documentário qualquer sobre vida extraterrestre. Segundo algumas teorias, começámos a ser visitados por seres do outro Mundo há milhões de anos. As pinturas dos Maias, Incas e Aztecas têm figuras estranhas e naves a vir do espaço. Não duvidem: é o Predador.
Sinceramente, gosto de pensar como é o Predador. Certamente ouve metal. Aposto que gosta de Napalm Death e Pantera. O Predador matava o David Fonseca. De certeza absoluta.
É criatura de filmes de acção e sitcoms. O Predador não gosta de dramas. Ele causa-os. O Predador deve gostar de cerveja. Não bebe chá. Mas não descura um bom copo de leite quando está triste. O Predador gosta de carne, mas não vai aos rodízios brasileiros. É assassino, mas tem bom gosto. Tenho a certeza que não é de esquerda. O Predador não gosta de comunistas. Ninguém gosta.

Está quieto

Hoje foi um dia difícil. Após mais de um ano adormecido, senti a minha sexualidade a voltar. Foi um dos dias mais rebarbados da minha vida. Acho que nunca olhei para tanta mulher como hoje. Até as mecânicas do Dakar me pareceram sensuais.
Durante a tarde, tive de ir à Praça da Figueira comprar um bolo rei. Minha nossa, tanta gaja na rua. Todas com frio. E eu a arder... À medida que andava na praça do Rossio, dei comigo à porta do animatógrafo. O "peep show" para os amigos, onde por uma moeda se pode ver uma mulher a acariciar-se só para nós. Tinha 17 anos quando fui pela primeira vez ao animatógrafo. Andava no 12.º ano. De todos os rapazes da turma, fui o que ficou mais tempo na cabine. Gastei o dinheiro todo numa espanhola loira de nome Sandra. Era podre de boa. Como só estava eu e um velho na cabine da frente, a Sandra achou-me piada e resolveu mostrar-me toda a sua feminilidade, orifícios incluídos. Foi a primeira vez na vida que vi um órgão genital feminino à minha frente. Sai eufórico do "peep show" e tive de pedir dinheiro emprestado para apanhar o barco. Fiquei com fama de rebarbado depois dessa tarde.
Hoje, lembrei-me desse dia enquanto estava à porta. Ao lado, agora, mora uma clínica dentária. Cá fora, uma mulher fumava. Olhei para ela e pensei: "Serás dentista ou enfias a broca noutro sítio?". Ainda meti a mão ao bolso para ver os trocos que tinha. Foi uma decisão difícil. O bolo rei da minha mãe ou as gajas. A fava ou o brinde. Naquele momento, apareceu-me a minha consciência e disse-me: "Está quieto". Assim foi. Escolhi o bolo rei. Sou um coninhas.
Hoje, já reconsiderei. Vou lá na segunda-feira.

Corroios-Dakar

Peço desculpa aos três leitores do blog pela ausência de textos novos. É que andei dedicado ao Lisboa-Dakar nos últimos dias. Não fosse o Bin Laden e, a esta hora, estaria em Portimão a descansar, após a primeira etapa e consequente lama. Mas não. A prova foi cancelada e logo no meu ano de estreia. É azar.
Estou cansado. Trabalhei de caraças nestes dias. Manhãs, tardes e noites. Sempre no Dakar e com um coordenador no Porto sem saber o que fazer. Se dependesse dos meus chefes para tudo, mal me tinha safado.
Adoro ver toda a gente a culpar o terrorismo pelo cancelamento da prova. Ameaças terroristas existem em toda a parte. Basta sair de casa. A 30.ª edição do Lisboa-Dakar não saiu de Belém por que o Governo francês não quis e as seguradoras se cortaram todas.
Foi pena. Por momentos, senti alguma pena dos pilotos e mecânicos por todo o esforço em vão. Mas não consigo ter pena dos prejuízos. O Dakar é uma prova para gente rica e mesmo aqueles que não têm equipa, não se podem considerar pobres. Afinal, não é qualquer pessoa que investe quase 200 mil euros numa aventura, mesmo que o dinheiro seja dos patrocinadores.
Não percebo muito bem a aventura do deserto. Os carros estão todos equipados com tecnologias de ponta e nunca falta a comida nos bivouacs. Atravessem África num Renault 5. Isso sim era uma aventura.
Em relação aos prejuízos, o Governo investiu três milhões de euros nesta brincadeira. Parece que não há reembolso possível, embora os autarcas andem por aí a gritar. Tendo em conta que foram dinheiros públicos, eu também quero o reembolso da minha parte. Seja lá quanto for.

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

2008

Tive uma bela passagem de ano. E tudo á última da hora. Talvez tenha sido tão agradável por causa disso. Após um belo jantar com um grupo de amigos, fomos até ao Castelo de Palmela. Evitei aquele local durante um ano e meio. Na altura, namorava e gastei um balúrdio numa noite romântica. Passado.
Ontem, quis o destino que começasse o novo ano naquele local. A vista é magnífica e foi abrilhantada pelo fogo de artifício e, sobretudo, pela companhia. Adorei. Foi uma forma de exorcizar fantasmas e, finalmente, apagar um par de números do meu telemóvel.
Mas, mais do que o local, o que contou mesmo foi o primeiro abraço de 2008. No fundo, não havia pessoa mais indicada.
E pronto, já começou o ano de 2008. Vamos a isso.