quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

O taxista

Nesta profissão, anda-se sempre de um lado para o outro. É raro haver um minuto de sossego. Grande parte das viagens para serviços são feitas em táxis, sempre a deambular pela cidade de Lisboa. Já perdi a conta aos taxistas que conheci. Às vezes, até os repetimos e eles reconhecem-nos sempre. No outro dia, no Restelo, o motorista assim que me viu perguntou: "Então, mais um jogo?".
Já apanhei de tudo. Gajos com paus junto ao banco do pendura para agredir os funcionários da EMEL, outros com televisão dentro do carro para ver futebol, mulheres que deixaram uma carreira no escritório para ganhar dinheiro a conduzir o carro. Há quem já tenha confessado homicídios, mas essa, infelizmente, não foi comigo.
Hoje, lá fui novamente. Assim que entrei no táxi, o taxista puxou logo conversa: "Então, este tempo... está frio." Pois estava. A aborrecer-me, puxei de um rico tópico de conversa, tendo em conta que ia a caminho de Carcavelos e a viagem ainda era considerável. "Estas mulheres de hoje..."
O que é que eu fui dizer! Do nada, o taxista contou-me toda a vida amorosa. Com muita caralhada pelo meio, falou-me do amor da vida dele, dos tempos da tropa e das traições dela, até do casamento falhado. Com 41 anos, disse-me que nunca amou ninguém como a primeira namorada, uma Manuela, mas que a desilusão foi tão grande que nunca mais se prendeu. Foi dele a decisão de terminar o casamento com outra mulher, muitos anos depois. Durante o diálogo, recordou algumas mulheres que transportou para enganarem os maridos, etc. O taxista soltou autênticas pérolas como "Se vir a minha ex-mulher na rua, nem lhe falo", "As mulheres são todas uma merda", "As únicas mulheres que respeito são a minha mãe, irmã e filha"e, a minha preferida, "as mulheres não amam, têm interesses". Foi, de longe, uma das melhores viagens que já fiz.
Nisto, partilhei-lhe a minha história e não omiti a proximidade geográfica com a defunta. "Foda-se, isso é muito fodido!", respondeu ele. Pois é. Enquanto contava a minha história, ele ia-me dando conselhos, no alto da sua sapiência. Retive este: "Isso nunca vai passar. Enquanto ficamos lixados e na merda pelo fim da relação, elas arranjam outro em menos de nada. São cruéis. As mulheres estão cada vez mais frias. E cheias de merda na cabeça. Mas não te preocupes. Voltam sempre. E aí... só tens de lhes dar sopa." Ah grande careca!

2 comentários:

Anônimo disse...

Não vou comentar! Mas que são pérolas, lá isso são ...

Anônimo disse...

sopa para nós..atum para voces!pode ser?