segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Gajas

Na semana passada, voltei às raízes da minha família. Fui a Castelo Branco visitar a cidade e os meus parentes. Ao longo de dois dias, percorri três auto-estradas e outras estradas nacionais. Andei nas curvas apertadas de Oleiros e Sertã, com geada e sem outro veículo no asfalto. Não aconteceu nada.
Anteontem, à saída de casa, uma gaja bateu-me por trás. Estava eu sossegadinho num entroncamento à espera que os outros passassem e...pimba! Bati com os cornos no volante e fiquei apanhado do pescoço. Quando sai do carro, vi o meu pára-choque traseiro amolgado. A frente do carro dela ficou desfeita. Assim que me aproximei, declarou-se culpada e desatou a chorar. Até soluçava. Deve ser esse o efeito que tenho nas mulheres. Azar do caraças.
Agora, preparo-me para ir à Ford. É preciso um orçamento do arranjo, peritagem, etc. Uma bela maneira de terminar o ano. Mas nem tudo foi mau. Ela é estetiscista e ainda vou ganhar um corte de cabelo grátis, com mudança de cor.
Ah! Ela conduzia um Seat Ibiza preto. Não acredito em coincidências.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Música

Como já escrevi, não vou recordar 2007 com muita saudade. Ainda assim, nem tudo foi mau neste ano. Na minha memória, 2007 vai ficar como o ano da música. Nunca vi tanto concerto como neste ano, a maioria em Corroios, a dois minutos de casa. Foi um pouco surreal ter algumas das minhas bandas preferidas a tocar na minha freguesia! Bom, em jeito de balanço, partilho aqui o meu top-ten dos concertos que vi ao vivo.
10. More Than a Thousand, em Corroios.
Uma surpresa agradável. Não é á toa que os Megadeth os colocaram na lista de possíveis bandas de suporte para a próxima digressão. Vão dar que falar.
9. Painstruck.
Vi-os duas vezes em Corroios. São uma das bandas emergentes do metal português e têm um som muito porreiro. Uma onda hardcore, mas muito bom. Fazem uma excelente primeira parte.
8. Kalashnikov, ao vivo na Faculdade Egas Moniz, no Monte da Caparica.
Este foi o meu terceiro espectáculo dos "kalash" em pouco mais de um mês. O concerto meteu universitários e skinheads. Foi cheio de energia e até o Jel (perdão o Duro) ficou admirado!
7. Cannibal Corpse, em Corroios.
Para terem noção, os Cannibal Corpse foram banidos de tocar em imensos países devido ao conteúdo das letras e das capas dos álbuns (qualquer pesquisa no Google tira-vos as dúvidas). São uma das bandas míticas do death metal e foram o meu primeiro concerto de 2007. O vocalista é colossal e o som bastante agressivo. Tinha feito uma entorse há pouco tempo e temi pela minha integridade física durante as duas últimas músicas. Para terem noção... chamam-se "Fucked with a knife" e "Hammer smashed face". Muito bom!!
6. Kalashnikov, no Santiago Alquimista.
Fui dos privilegiados a assistir à estreia dos Kalasnikov. Um mês antes, o Jel confessou-me estar à espera da loucura, mas nem ele pensou assistir a tal coisa. O Santiago Alquimista estava repleto e, por momentos, pensei estar num concerto punk, no meio de tanta confusão. Todos entoaram os refrões e a banda repetiu o repertório todo! No meio da multidão, estava o Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell. Ficou tão surpreendido que resolveu levar os Kalashnikov para a primeira parte do concerto do Coliseu. Os Kalashnikov vão ter um 2008 em grande. E, se não me enganar, vão estar num grande festival nacional.
5. Napalm Death, em Corroios.
Meus amigos, Napalm Death é, provavelmente, a banda com o som mais agressivo do planeta. Uma mistura de death metal com grindgore. É o tipo de som que faz as unhas dos pés saltar. Ainda para mais, num espaço com capacidade para 500 pessoas, com pouco mais de 200 no recinto e todas elas metaleiros agitados! O espectáculo foi a uma quarta-feira à noite e até o Cristo Rei ouviu! Foi um enorme concerto. Já me tinham falado dos Napalm Death, mas fiquei siderado quando vi a primeira música. Os acordes pareciam bater directamente no cerebro. Fiquei com um zumbido nos ouvidos durante quatro dias. Assim que se ouviu o primeiro "riff", os "metalheads" passaram-se e desataram a bater um nos outros. Nisto, entra o vocalista e diz.."Caso não tenham percebido, somos os Napalm Death. Boa noite!". Épico.
4. Dimmu Borgir, no Coliseu.
Mais uma estreia para mim. Os Dimmu Borgir são uma das bandas de culto do black metal. São pagãos, nada cristãos e com adoração pelo Diabo. Regressaram a Portugal e encheram o Coliseu como eu nunca vi. O concerto foi brutal, o som é fantástico (incluindo com as teclas) e os grunhidos do Shagrath assustam qualquer um. Antes deles, tocaram uns suecos chamados Amon Amarth. Foi uma bela noite de paródia.
3. Moonspell, no Coliseu
Foi o meu quarto concerto de Moonspell. De longe, o melhor. Quando dão o espaço e atenção que a banda portuguesa já conquistou e merece... os Moonspell são fabulosos. Foi, sem dúvida, um dos grandes concertos do ano, em plena noite das Bruxas. Duas horas sempre a bombar, com a banda a revisitar todos os álbuns, sem esquecer os grandes êxitos. Recordo-me particularmente da jovem com quem engracei (e ela comigo) a fugir quando desatei aos berros no "Full Moon Madness". Ao fim de duas horas, o Fernando Ribeiro, já sem voz, confessou que a banda ponderou nem fazer o espectáculo. Os Moonspell são uma daquelas bandas obrigatórias, pelo menos uma vez na vida.
2. Sepultura, em Corroios.
Quando me disseram que os Sepultura vinham tocar à minha freguesia, por pouco não tive um ataque cardíaco. Os Sepultura são uma das minhas bandas preferidas de sempre. Cresci a ouvi-los e sou doido. O espectáculo foi a um domingo à noite, em Março, mês de aniversário. Sai do jornal a correr, peguei no carro (já atrasado) e demorei oito minutos do Marquês de Pombal ao Cine Teatro. Nunca um Fiesta andou tão rápido. Depois da saída do baterista Igor Cavalera (irmão do Max, antigo vocalista), Portugal assistiu à estreia do Jean Dolabella. O concerto começou com o Andreas Kisser a querer saltar para o meio do público para agredir um gajo. Passou o espectáculo inteiro a insultar o espectador e quando se aproximou do microfone, a única coisa que disse foi "Puta que pariu, caralho". O Derrick Green, vocalista, falava no seu português esforçado sempre que podia. Dizia sempre a mesma coisa: "Aí galera, tudo bem?". O concerto foi fabuloso. Tal já se esperava num recinto tão pequeno. Como já se esperava, tocaram um best-of e terminaram com o esperado "Roots bloody roots". Pela primeira vez na vida, estive num mosh de metal e logo com o "roots" dos Sepultura. Foi das melhores experiências da minha vida. A adrenalina e revolta foi tal que nem senti os murros que levei. No dia seguinte, mal me conseguia mexer. Recordo-me dessa noite imensas vezes. Amei.
1. Metallica, Super Bock Super Rock.
Sem palavras.
No próximo ano, farei a lista de 2008. Até ver, prevê-se um ano em grande. Os meus Iron Maiden vão voltar ás digressões. Dia 9 de Julho, vão estar no Super Bock. Os Metallica um mês antes no Rock in Rio.
E já tenho bilhete reservado para o meu primeiro Wacken Open Air, na Alemanha. O maior festival de metal do mundo! Iron Maiden confirmados! Up the irons!

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Está a terminar

Mais duas horas e o Natal termina. Até que enfim!
Esta é, sem dúvida, a época do ano que mais detesto. Nunca tive grande espírito natalício, talvez por que os meus "natais" são todos iguais. A família junta-se, finge que é feliz, come o bacalhau, etc. É das noites mais penosas do ano.
Para mim, o Natal e o Ano Novo são potenciadores de sentimentos. Se estamos felizes, ou numa relação com alguém, a época é maravilhosa e tudo é bonito. Mas, pelo contrário, se estamos tristes, é penosa. Este ano, o Natal acabou por não ser mau de todo. Descobri os prazeres do vinho tinto e do Jameson para passar a noite de Consoada. O Pai Natal até foi generoso do ponto de vista monetário. No fundo, reconheceu o meu esforço ao longo do ano. Mesmo sem comer a sopa em alguns dias.
Contudo, para mim, pior do que o Natal só mesmo o Ano Novo. Comecei a detestar a noite da passagem de ano desde miúdo. Primeiro, não percebo a euforia do dia. Afinal, não é apenas a passagem de um ano civil para outro? Para quê tanto alarido? Desde criança, fui habituado a passar o ano com os meus pais e os meus tios, sendo que eu era a única criança. Quanto ao meu irmão, nem vê-lo. Assim, desde cedo que é a noite mais penosa do ano.
Para mim, a passagem de ano potencia ainda mais os nossos sentimentos. Quando estamos mal, a última coisa que devemos fazer é ficar sozinhos ou mesmo fugir. Já passei em casa e com 15 mil pessoas doidas numa avenida de Amesterdão e garanto: o vazio era o mesmo. Em alguns minutos, vemos um ano inteiro passar à nossa frente. Olhamos para o céu e pensamos em tudo. Depois, recordamos as promessas feitas na passagem do ano passado e apercebemo-nos que não evoluímos assim tanto. Por mim, se pudesse, adormecia domingo e só acordava quarta. Talvez a droga seja uma solução.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Decisões.

Ando numa encruzilhada emocional.
2007 está a chegar ao fim. Sempre antevi este ano como de muito trabalho. Não me enganei. Nunca trabalhei tanto na vida como em 2007. Nem férias gozei, por falta de dinheiro. E, infelizmente, constato que estou na mesma situação precária. Assim sendo, nesse campo e apesar das promessas de aumentos, está tudo na mesma. E não vai mudar.
Todavia, noutro aspecto, evolui bastante em 2007 e a prova disso aconteceu este sábado. Fiz um jogo do Sporting sozinho e voltei a safar-me bem. Enquanto aguardava pelo início do desafio, olhei bem lá de cima para o centro do relvado e senti-me em paz. Afinal, sonhei e esperei por aquele momento.

Horas antes, estive em mais um fantástico jogo de Juniores A, num sintético perdido no Restelo. Enquanto via o jogo, olhava para o Tejo e pensava na vida. Ando há uns tempos para tomar uma decisão. A de sair daqui.

Nunca escondi o desejo de continuar a estudar e creio ter encontrado o sítio ideal. Madrid, Espanha. Um mestrado de um ano num dos melhores jornais europeus. Além da formação, ia pirar-me daqui. O problema? Bom, para começar o dinheiro. Só o curso custa 10 mil euros, fora a estadia e tudo o resto. Madrid não é uma cidade barata. Além disso, tenho receio de abandonar o jornal numa altura em que começo a ter maior protagonismo. De alguma forma, temo sair do comboio e não mais voltar a apanhá-lo. Mesmo que ele ande devagarinho…

Mas, como em tudo na vida, é um risco. A questão de fundo aqui é simples. Mesmo que continue a evoluir, não vou suportar um ano de 2008 igual a este que finda. Já me sinto vazio o suficiente e mal está uma pessoa quando vive 365 dias para escassos momentos de realização.
Estou a sufocar. Este prédio, esta vila, a própria cidade de Lisboa são cada vez mais pequenos para mim. Já não consigo respirar. Tudo parece contaminado. Mal saímos de casa e vemos logo o que não queremos.

Chegou a altura de agir, de fazer algo, de tomar decisões. Mesmo sabendo que as nossas decisões têm consequências.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Apetece-me vinho

Anteontem, um colega enviou-me uma sms. Precisava de falar comigo o mais rápido possível. até fiquei alarmado, mas logo ele tratou de me acalmar. Era sobre gajas. E, hoje, lá falou comigo.
Consta que a esposa dele tem uma amiga divorciada, professora por sinal. Parece que a pobre educadora, desde que ficou sem marido, anda necessitada. De acordo com a esposa do meu colega, quer sexo. Já segundo o meu colega, "quer pau".
Então, do que é quem o meu colega se lembrou? De mim. Tendo em conta que estou sozinho e que já não me passa nada pelas mãos há uns tempos, veio falar comigo para ficar com o contacto da tal professora. Segundo ele, é tiro e queda. É só falar com ela no msn, dizer umas piadas, combinar um jantar na cidade dela e pimba. Já está. Até me oferece onde dormir, só para acabar com as necessidades da senhora. A princípio, ainda me ri. Consultei um ou outro amigo meu e as respostas foram unânimes: "Aproveita".
Sinceramente, nem quero acreditar. Eu sei que sou antiquado e que trato a maioria das mulheres como não merecem ser tratadas, mas... está tudo doido? Cada vez me pareço mais com a Charlotte de "O sexo e a cidade". Preciso mesmo de vinho.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Eu, materialista, me confesso

No outro dia, reparei na minha sobrinha mais velha enquanto via televisão. Estava especada a olhar, completamente atenta. O mais estranho é que não via qualquer programa ou desenho animado. Estava "apenas" a ver anúncios. Todos os Natais, somos bombardeados com inúmeros anúncios de brinquedos e afins. A minha sobrinha, como qualquer criança, já fez a lista dos presentes.
Vem isto a propósito do tio dela. Eu. Ando muito preocupado com o meu materialismo.
Nos últimos tempos, ando obcecado com PDA. Não sei muito bem para quê, mas embirrei que preciso de um. Com sorte, até tenho quem me venda um dos melhores por metade do preço. Mas pergunto-me sempre? Para que raio preciso de um PDA? Vou enviar algum mail? Não. Vou utilizar a internet? Não. É prático? Não. Pior.. preciso dele? Não! Mas gostava de ter um e fico lixado quando vejo alguém brincar com o aparelho à minha frente. Dou comigo a arranjar argumentos absurdos para justificar o investimento. "É bom para organizar contactos e para calendarização". Compra uma agenda! Até fui a casa do meu irmão ver se ele me emprestava o dele. Azar dos azares, começou a utilizá-lo.
Na semana passada, passou-me a vontade do PDA e dei comigo a pensar em outra raquete. A Yonex RDS001, utilizada pelo David Nalbandian. De facto, já joguei com ela e é estupenda. Custa 200 euros? E depois?! Já tenho uma e o sou tão básico que não preciso de duas? E então?
Durante o fim de semana, passou-me a raquete e dei comigo a desejar uma máquina fotográfica digital. Comecei-me a imaginar a tirar fotografias a tudo.
Hoje, a máquina passou-me e voltaram os telemóveis. Alguém teve a brilhante ideia de colocar o Nokia N73 a 200 euros e tremi todo. Até fui à loja do TMN ver se havia alguma forma (nem que fosse um vazio legal) de trocar o meu 6233 pelo N73. Não há. Grandes cabrões. Por acaso, nem preciso de trocar de equipamento, pois o meu Nokia 6233, além de estar em perfeitas condições e de ser um telefone fabuloso, tem pouco mais de um ano. Então, cheguei a ponderar comprar o N73 através da Vodafone e sustentar dois telemóveis, até para não gastar tanto dinheiro. Ah! Entretanto, comprei um computador portátil, mas isso até foi um bom investimento e muito jeito me dá.
Tudo isto começou há uns anos, mas tomou proporções maiores a partir do momento em que comecei a trabalhar, talvez por já ter o meu dinheiro. Sem ser coincidência nenhuma, também piorou assim que fiquei sozinho. Comecei a gastar dinheiro em roupas, algumas caras (um blazer de 50 contos?!), nums óculos de sol, em perfumes, etc. Até comprei um cachecol Hugo Boss em Amesterdão. Caríssimo.
Um ano depois, foi-se o desejo de roupa e chegaram as novas tecnologias. Uma amiga minha (sempre as gajas) avisou-me: "Não precisas de outro telemóvel e não é isso que te vai fazer feliz". Porque raio ando pior do que a minha sobrinha a ver anúncios? Será que, de facto, somos materialistas para colmatar algumas carências mais primitivas, sobretudo afectivas? Não encontro outra explicação. Mas lá o que o N73 é giro, lá isso é...

sábado, 8 de dezembro de 2007

Momento Calimero

Às vezes, sinto-me a andar ao contrário de todos os outros. Trabalho quando todos folgam (fins de semana são mentira), deito-me quando todos acordam e janto quando muitos se deitam. É raro encontrar alguém em sintonia comigo, quanto mais não seja de horários.
Hoje, por exemplo, até estou naquelas noites em que me apetecia sair. Respirar, beber uma cerveja, ver qualquer coisa diferente. Mas ninguém está disponível. Ou melhor, nem sei onde anda todo o mundo. Até fiz o meu primeiro jogo do Sporting sozinho e fiquei a saber que fui destacado para o rali Lisboa-Dakar (mas só até ao Algarve...), a prova todo-o-terreno mais dura e mítica de sempre. Eram o tipo de coisa a partilhar com todos. Mas, mais uma vez, cá estou.
Amanhã, é mais um dia de trabalho. E dos piores. É precisamente nestes dias que todos estão disponíveis, aborrecidos e sem nada para fazer. Vão para o messenger e vêm falar comigo. Indignam-se por responder tão pouco ou por parecer zangado. Nem é o caso. Apenas tenho tanto que fazer que, simplesmente, não posso dar grande atenção.
Isto chateia-me, sinceramente. Vou dormir.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Fascismo.

Durante a minha travessia no deserto, tive uma epifania. Mas sem o Cristo, pois nem acredito nele. Uma espécie de revelação sobre a minha pessoa. Certo dia, a defunta atirou-me à cara com o seu olhar altivo: "Não és humilde". Até me passei. Hoje, até lhe dou razão. Tens razão, estafermo. Não sou humilde. Mais. Descobri que sou egoísta e intolerante. A falta de tolerância, então, é enorme.
Ando desiludido com o Mundo, desde o dia em que descobri que nunca será como eu quero.
Deve ser essa a razão pela qual até gostava que metade do jornal fosse despedido. Dava-me um certo gozo, assim como ver o meu chefe "baldar-se" pelas escadas abaixo, com o queixo a bater em cada degrau pelo menos três vezes. A maioria não faz nada, nem quer. Os "colaboradores" são contratados às dezenas para trabalhar, enquanto os outros. os do "Quadro" (esse Olimpo) nada fazem, excepções honrosas à parte, como tu, jovem editora de uma revista. Sim, porque eu sei que vens aqui. Adiante. Isso são outros assuntos.
Mas a minha falta de tolerância é bem mais radical com as pessoas. Vivo preso a um código de conduta ético, moral e conservador que eu próprio criei. E quem não se rege por ele, é feio. O pior é que não consigo mesmo livrar-me dele.
Sou incapaz de ser cabrão. Respeito demasiado as mulheres. Trato-as com educação, boas maneiras, como pessoas e não como objectos. Sou incapaz de "as comer". Só faço amor e nunca sexo. Acredito no "amor da nossa vida", no "amor eterno". Antiquado! Em pleno século XXI, toda a gente sabe que as mulheres não merecem nada disso. Nem querem. Querem surfistas, inúteis das tunas, cabrões, boémios e gajos com cobras nos ombros. Já não há lugar para os românticos. Os poucos que ainda se julgam românticos já desistiram. Quando percebemos que nada é como queremos, desistimos e, pior, ficamos resignados. Talvez esteja mesmo a virar um fascista, no sentido radical da ideologia. Deve ser por isso que e elas temos uma relação recíproca. Eu não lhes ligo nenhuma e elas não querem saber de mim. Deve ser por não ter uma jibóia. Que se foda. Ao menos, não sou da tuna.

domingo, 2 de dezembro de 2007

A solidão de estar sozinho

Hoje tive um dia sintomático da minha vida. Mais de doze horas de trabalho. De manhã à noite. E na maioria do tempo...sozinho. Até almocei num restaurante perdido do Passil, perto de Alcochete, com a minha pessoa. Agora, no dia em que fiz o meu primeiro clássico e quando mais gostava de partilhar isso com alguém, acabo por terminar o dia sentado ao computador, com um café pela frente, o enésimo da jornada. Sozinho.
Ainda assim, até me sinto bastante bem e, nos últimos tempos, descobri que até gosto de estar sozinho. Não saio há duas semanas, os meus amigos e família quase me negligenciam, mas nem quero saber. Sinto-me bem.
Para mim, estar sozinho é diferente da solidão. É um dos grandes problemas das pessoas. Não suportam estar sozinhas. Passam o tempo todo a sair, metem-se em relações. Não porque precisem, apenas têm medo da solidão. Não aguentam estar sozinhas. No fundo, não se suportam a si próprias.
Também já fui assim. No final de cada dia, sentia-me vazio como tudo. Não fazia mais nada do que chatear para cafézinhos e cinemas. Quando dava por mim, estava num teatro qualquer a ler o Público, a comer sopinha e a discutir filosofia. Não me suportava, não aguentava a minha solidão e, mais do que tudo, não aguentava o meu desgosto.
Aos poucos, percebi que só piorava e deixei-me de merdas. Hoje, encontrei-me. Voltei a ser o bicho-do-mato, o ser anti-social. Quando não estou a trabalhar, passo o tempo em casa ou a jogar ténis. Nunca faço nada que não goste. Gosto desta liberdade, um vício, como escreveu o Miguel Sousa Tavares. Trouxe-me paz, tranquilidade. A minha vida é uma pasmaceira, assumo-o, mas, ao menos, não tenho grandes problemas.
E as miudas, perguntam vocês? Sinceramente, nem penso muito nisso. Não me vejo numa relação nos próximos anos. Acho muito improvável. Estou finalmente a recuperar, a encontrar-me após um ano perdido e não quero lixar nada. Sinceramente, nem estou preparado para isso. Ainda não consigo voltar a acreditar e a entregar-me. Talvez daqui a uns tempos.

Natal

Ontem, cometi o erro de ir ao centro comercial a uma sexta-feira à tarde. Estava cheio.
Ao princípio, ainda estranhei. Depois foi óbvio. Luzes, árvores, promoções. Começou o Natal, um dos períodos mais deprimentes do ano, senão o mais deprimente.
Ao ver todas aquelas pessoas ali, constatei uma coisa. Há muita gente com subsídio natalício. Cabrões.

Pós-clássico

Cheguei há menos de uma hora a casa. Hoje, pela primeira vez na minha curta carreira, fiz um clássico. E logo um Benfica - F. C. Porto. Era daquelas coisas com que sonhava em criança. E muito. Aconteceu hoje. Trabalhei imenso, é certo, mas valeu por cada segundo. Estádio cheio, ambiente de grande jogo, um país parado... e eu a ver o jogo à borla, a escrever sobre ele. No final, zona mista com os artistas da bola. Até vi por lá o Reinaldo Teles e os funcionários do clube cheios de...fruta. Mas não era daquela do Brasil. Eram bananas, maçãs e uvas. O Helton, por exemplo, até vinha a comer um grande cacho. E o Quaresma a tresandar a perfume. Adiante.

No meio da tribuna de imprensa, lá estava ele. O meu mano, um dos meus melhores amigos. Quando entrámos os dois para a faculdade, sonhavámos com dias como o de hoje. E, mais do que estar no clássico, soube ainda melhor vê-lo por lá. Conseguimos.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Casamento

É sempre estranho ver uma amiga nossa noiva. Mas aconteceu este fim de semana. Confesso que não estava à espera de ser convidado para a cerimónia, ainda para mais tendo em conta a intimidade pretendida. Mas fui e não podia faltar ao casamento de uma grande amiga minha.
Quando a vi entrar na cerimónia, toda de branco e com um sorriso brilhante, quase chorei. De alegria. Senti uma alegria enorme, algo inexplicável. Nem no casamento do meu irmão senti tal coisa. Talvez por que nesse dia apenas tinha 15 anos e mal sabia o que era a vida. Não que saiba agora.
Ver a Rita e o Fernando casarem é perceber que o verdadeiro amor existe. Olhamos para eles e percebemos que foram feitos um para o outro, que tinha de acontecer. Como se fosse a coisa mais natural do mundo. Talvez seja. Foi um daqueles momentos em que divagamos. Pensamos em tudo: no passado, no presente e no futuro. Naquele instante, até pensei no dia do meu próprio casamento, seja lá quando for.
Mas, quando se está solteiro, é nesses momentos que mais nos sentimos sós. Ao vê-los juntos, por mais felizes que também estejamos, não deixamos de sentir alguma inveja. Eu, pelo menos, senti.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

O meu pai.

Um dia, durante uma sessão, a minha psicóloga disse-me que eu sofria de mais por algumas coisas, para não ter de sofrer por outras, bem mais dolorosas. Uma espécie de estratégia de protecção masoquista. Nunca percebi muito bem o que ela quis dizer nesse dia. Hoje, acho que finalmente cheguei. Afinal, como ela própria me dizia, "o que é um desgosto amoroso comparado com a dor de perder um pai?". Eu fugia sempre desse assunto. Nunca foi algo de que gostasse de falar muito. Esta madrugada fez três anos que o meu pai faleceu. Quis o destino, naquela noite de Novembro, que o último suspiro dele em vida fosse a meu lado. Era o meu turno.
Assim que soube da doença, procurei de imediato ajuda psicológica. Eu sabia que, por mais força e vontade que tivesse, o meu pai nunca iria vencer aquela batalha. Fiquei apavorado e não queria que ele percebesse isso. Escondi-lhe as consultas ou mesmo os fármacos que tomava. Afinal, nada do que sentia era comparável ao que ele sentia. Às vezes, questionava-me. "O que sente uma pessoa quando lhe dizem ter menos de um ano de vida?". Preferia nem pensar na resposta. Com as consultas, tentei compreender o que se estava a passar, procurei ajuda, um encosto, um ombro e, sobretudo, preparar-me para o futuro. No fundo, a morte dos nossos pais até é a evolução natural das coisas. Nós é que os devemos enterrar e não o contrário. Mas é pura ilusão. Naquela noite, sozinho na sala com ele, vi a pouca vida que lhe restava abandoná-lo. Sabia que o fim estava para breve e, no meio de toda a agonia, só pedia fim do sofrimento. Porém, em breves segundos, percebi que não estava preparado para perder o meu pai. Nunca ninguém está.
Os primeiros dias após a morte são esquisitos. Sentimos o nosso corpo sonolento, sem reacção. Não sabemos bem o que sentir ou pensar. Lembro-me da cara assustada dos meus colegas e professores quando me viram nas aulas no dia seguinte ao enterro. O pior é depois. Os dias continuam, chega a uma semana. Até que vamos pela primeira vez ao cemitério após o funeral. Vemos a lápide e aquelas palavras que todos lêem, mas que ninguém quer perceber: "Eterna saudade". Nesse momento, é como fossemos atingidos por um raio. Comigo foi assim. Naquele instante, percebi que nunca mais na vida iria ver o meu pai.
O meu pai foi um homem fantástico. É normal dizermos todos isto, mas é a mais pura das verdades. Nunca foi daqueles pais que nos leva a passear, a jogar à bola, ao cinema ou nos procura quando se vê nos nossos olhos que estamos apaixonados. Eu estava, ele sabia que eu estava, sabia por quem - toda a gente sabia por quem -, mas ele nunca me questionava. Era um pai de sofá, mas fazia tudo pelos filhos. Tudo. Lembro-me quando fracturei a perna. Enquanto a minha mãe chorava compulsivamente (e eu tinha apenas uma perna fracturada), o meu pai transmitiu-me uma calma enorme. Ia comigo à fisioterapia, buscar-me à escola. Esteve sempre lá. Quando entrei na faculdade, completamente lixado por ir estudar para Setúbal, ele foi comigo fazer a matrícula. Esteve sempre lá. Até a minha profissão foi por sua influência. Se o meu pai não gostasse de futebol e de ler jornais desportivos todos os dias, eu seria o que sou hoje? Duvido. Aliás, essa é uma das minhas maiores mágoas. Saber que o meu pai nunca irá ver o filho a escrever sobre o Sporting.
Hoje, três anos depois da sua morte, mais não posso fazer do que pôr uma rosa junto à lápide, chorar em silêncio e olhar para o Céu. Como sempre o faço. Arrependo-me de não ter falado para todos durante o velório. É algo que nunca farei. Mas devia ter feito. E, naquele instante, teria dito o que digo hoje: o meu pai foi um homem fantástico.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

24 anos.

Hoje, uma pessoa da minha família fez a bonita idade de 35 anos. Caraças, que inveja.
Tenho apenas 24 anos e não vejo a hora de ter 30. As pessoas a quem digo isto chamam-me louco. Tenho a ideia de que os homens melhoram com a idade. Pelo menos, é o que dizem. À medida que envelhecem, ficam mais charmosos, sedutores, diferentes. No auge. Eu, pelo contrário, já me sinto um velho e ainda nem cheguei ao quarto de século.

Enquanto os 30 não chegam, conto os dias até fazer 25, na esperança que tudo esteja diferente nessa altura. Talvez me engane, mas não suporto mais as duas dúzias. Hoje, mais uma vez, cheguei a casa exausto. Um ano de trabalho, de sacrifício, com poucas recompensas.
É como diz o Saramago na obra "O ano da morte de Ricardo Reis". Às vezes, vive-se mais num fulgurante minuto ou segundo do que em muitos meses. E, durante os 24 anos, tenho vivido muito pouco. Isto já começa a ser penoso.

Talvez seja a entrada na vida adulta. No outro dia, uma grande amiga minha, que me pegou o vicio da Anatomia de Grey, dizia-me que a entrada na vida adulta é bem pior do que qualquer adolescência. Hoje, não podia estar mais de acordo. Organizar vida, começar a trabalhar, as eternas questões da nossa vocação, os primeiros problemas laborais e, sobretudo, tentar não desiludir ninguém. Acima de tudo, quem nos deu a oportunidade. Então, trabalhamos muito, na esperança de não desleixar. E quando se juntam desilusões amorosas (e das fortes) e enormes crises de confiança, ainda pior. Aconteceu tudo ao mesmo tempo. Aos 24 anos. É fodido quando percebemos que o Mundo não é como queremos ou como o pintamos. Maldito.

Sentimo-nos em queda livre, a desfalecer. O que fazemos, então? Lutamos, lutamos e ficamos preparados para ainda mais desilusões? Não o fiz. Acho que aceitei a queda livre, pelo menos, deixei de lutar contra ela. Neste momento, é forte de mais.
Aceitamos que o sofrimento faz parte da vida, torna-nos mais fortes, mais sábios, e essas tretas todas. Mas temos mesmo de passar por ele. Depois há de passar. Só assim se cresce. Espero eu. Enquanto isso, lá continuarei a trabalhar e a esperar pelos 25 anos, enquanto não chegam os 30.

domingo, 18 de novembro de 2007

Seat Ibizas e comboios

É oficial. Estou a perder o juízo.

Hoje à noite, bem à noite, à porta do jornal, pareceu-me ver-te dentro de um Seat Ibiza preto, o Seat Ibiza preto do teu novo namorado. Sim, por que já arranjaste outro.

Estavas a sorrir e pareceste-me mesmo tu. É por isso que estou a perder o juízo. Porque te vejo em todo o sítio, a toda a hora. Ando obcecado com o carro, pelo que sei até já o conduzes. Presumo que a coisa seja séria.

Vejo Seat Ibizas pretos em todo o lado e em todos espreito lá para dentro, com medo de te ver lá. Mas hoje, à porta do jornal, pareceste-me mesmo tu. E estavas a sorrir. Isso é que é pior.



Tens outro. Arranjaste outro. E vou-te ser sincero: deixa-me fodido, triste e, por vezes, arrasado. Hoje, por exemplo. Sou passado para ti, não existo mais, nem nunca mais vou existir. Olha, ouvi-te agora nas escadas, bateste com a porta, chegaste a casa. Tendo em conta que o teu carro estava estacionado no mesmo sítio de ontem, só podes ter vindo no dele. O Seat Ibiza preto.

Sempre pensei que me ias procurar, desde o dia em que terminaste comigo, há ano e meio. Ias dizer o quanto sentiste e sentes a minha falta, que não arranjaste mais ninguém como eu e que sentes saudade de mim, dos meus abraços, das minhas parvoíces, de tudo. Nunca o fizeste. Começo a aceitar que nunca o vais fazer. Nada mais natural em ti, pois nunca o fizeste com todos os outros ex-namorados. Não sou mais do que eles. É assim que me sinto, apenas mais um. Quando não quiseste mais nada, despachaste-me e nunca mais me disseste nada, até me ignoraste na rua.

Apesar disso tudo, de toda a mágoa que causaste, assumo-o: tenho saudades tuas. Das nossas coisas, das conversas, de tudo. Hoje, já não fazem grande sentido, mas continuo a sentir falta. Não fazes ideia de como me deixaste, quando terminaste comigo. Arrasaste-me. Perdi a confiança em mim, duvidei do meu trabalho, deixei de me sentir bonito, desejável. Deixei de me arranjar e passei a não confiar nas mulheres. Mas, ainda assim, depois de todo esse mal, ainda sinto a tua falta.

Não sei se te amo ou se te odeio. Talvez as coisas não se possam separar. Eu, pelo menos, não o consigo. Peço-te desculpa, mas a tua felicidade arrasa-me. Estás feliz e eu não. Porque - e vamos lá assumir isto - ainda te amo.

Sempre disse que eras um comboio. Um TGV, sempre rápido, pelo menos a descer as escadas. Ainda o és. A tua vida é um comboio, dos rápidos, daqueles que levanta pó por onde passa. Os passageiros passam, entram, saem, mas tu segues sempre. Até ao dia em que vais descarrilar.
Eu, pelo contrário, sou um daqueles vagões a carvão, saído da Revolução Industrial. Lento, muito lento, parado. Não saio dos carris, mas também não ando. Estou parado, estagnado e sem pessoas à minha espera nas estações e apiadeiros. Por isso, este blog só podia ter este nome. O comboio que não anda. Bem vindos à minha vida.