domingo, 9 de março de 2008

24

O grande problema dos blogues é a tentação de mostrar a todo o Mundo o que escrevemos ou o que sentimos. Se assim não fosse, nunca os textos estariam disponíveis à distância de um clique. Estariam num cofre ou numa caixa qualquer, como fazemos como as nossas recordações. Ficam guardadas num sítio bem recôndito da casa, onde não tenhamos a tentação de as resgatar, como se nos quiséssemos esquecer que ali estão. No fundo, fazer o mesmo em relação à nossa vida. Até que chega uma altura em nem reparamos, mas damos com a caixa. Abrimos, vemos o conteúdo, lemos o que não devíamos ler, ouvimos o que não devíamos ouvir e tudo se complica.

Esperei muitos meses pelos 25 anos, como se fosse um dia mágico que ia mudar toda a minha vida. Como se deixasse de ser um miúdo e passasse a ser um homem já feito. Mas nada disso aconteceu. Já com o quarto de século, damos por nós numa introspecção sem fim, isolados, alheados do resto do Mundo, sem vontade de sair ou estar com alguém. Ficamos aprisionados com o passado, em constantes pensamentos e com receio do futuro. É assim que me tenho sentido nos últimos tempos. O entusiasmo de sair desapareceu. Não tenho grande dinheiro, mas nem é essa a grande razão. Percebi que não sou capaz de arriscar, que sou um bocado cobarde em relação a isso. Sou daqueles que vê os dias passar uns atrás dos outros, sem que isso traga algo de fantástico. Trabalhamos, cumprimos, estamos lá todos os dias, mas não sentimos o devido valor. Aos poucos, vem a acomodação e com ela a estagnação.

O pior de tudo é o passado. E é aqui que não devia mostrar ao Mundo o que realmente sinto. Porque a questão é exactamente essa. Não sei o que sinto. Não sei sequer que sinto. É angustiante estar com uma pessoa sem realmente estar. Sem sentir nada, sem sentir os lábios na nossa boca ou o toque na nossa pele. Porque a cabeça está noutro lugar. E percebemos que não é aquilo que queremos. Essa acabou por ser a única certeza que tive ao longo destas semanas. A certeza que tive naquele beco enquanto me dirigia para o meu carro, convicto que não era aquilo que eu queria e que tudo estava errado. Aí, foi o passado que apareceu, depois de muito tempo escondido, latente, enganando-me a mim próprio.

Depois vem o dia desejado, o dos 25, mas sem grandes euforias. E, com ele, vem o silêncio, um silêncio natural, esperado, mas sempre duro. Nunca nos acostumamos a esse silêncio, por mais que haja muito barulho e as pessoas cantem o nosso nome. Há alegria, mas não deixamos de sentir uma certa angústia. Por não sentir. E com isto tudo regressa a desorientação, as eternas dúvidas e os fantasmas a assombrarem uma casa que já não se assusta.

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