quarta-feira, 26 de março de 2008

Hein?

Às vezes, fico com vontade de ser argentino. Gostava mesmo de ser argentino, um daqueles chamado Diego qualquer coisa, charmosos como nos filmes, com uma voz colocada e peritos a dançar o tango. E dizer com uma voz sensual "Diego" sempre que uma rapariga me perguntasse o nome.
Dou comigo com vontade de ser distinto, de ser único, e não apenas mais um rapaz dos subúrbios, igual a tantos outros, com o mesmo casaco há quatro anos só porque não me apetece comprar outro. Gostava de não andar tanto de transportes públicos, de não me isolar lá no fundo com os olhos postos num livro e a segurar a lancheira. Gostava de não ser tão bicho do mato para as raparigas, de baixar as minhas defesas e de não ter tanto medo de ser magoado. Talvez assim tirasse os olhos do livro e recebesse algum sorriso bonito, daqueles de quem acabou de reparar em mim e até gostava de conversar comigo.Gostava de não ser tão exigente com as pessoas, que as compras servissem, de facto, para alguma coisa e afastassem os vazios.
Acima de tudo, gostava de não ser um Florentino Ariza. É disso que tenho mais medo, transformar-me num e andar por aí a espreitar em tudo quanto é sítio à procura dela. Eu não quero ser um Florentino Ariza, e não me posso transformar num Florentino Ariza. Mas esse é colombiano, não é?

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