domingo, 18 de novembro de 2007

Seat Ibizas e comboios

É oficial. Estou a perder o juízo.

Hoje à noite, bem à noite, à porta do jornal, pareceu-me ver-te dentro de um Seat Ibiza preto, o Seat Ibiza preto do teu novo namorado. Sim, por que já arranjaste outro.

Estavas a sorrir e pareceste-me mesmo tu. É por isso que estou a perder o juízo. Porque te vejo em todo o sítio, a toda a hora. Ando obcecado com o carro, pelo que sei até já o conduzes. Presumo que a coisa seja séria.

Vejo Seat Ibizas pretos em todo o lado e em todos espreito lá para dentro, com medo de te ver lá. Mas hoje, à porta do jornal, pareceste-me mesmo tu. E estavas a sorrir. Isso é que é pior.



Tens outro. Arranjaste outro. E vou-te ser sincero: deixa-me fodido, triste e, por vezes, arrasado. Hoje, por exemplo. Sou passado para ti, não existo mais, nem nunca mais vou existir. Olha, ouvi-te agora nas escadas, bateste com a porta, chegaste a casa. Tendo em conta que o teu carro estava estacionado no mesmo sítio de ontem, só podes ter vindo no dele. O Seat Ibiza preto.

Sempre pensei que me ias procurar, desde o dia em que terminaste comigo, há ano e meio. Ias dizer o quanto sentiste e sentes a minha falta, que não arranjaste mais ninguém como eu e que sentes saudade de mim, dos meus abraços, das minhas parvoíces, de tudo. Nunca o fizeste. Começo a aceitar que nunca o vais fazer. Nada mais natural em ti, pois nunca o fizeste com todos os outros ex-namorados. Não sou mais do que eles. É assim que me sinto, apenas mais um. Quando não quiseste mais nada, despachaste-me e nunca mais me disseste nada, até me ignoraste na rua.

Apesar disso tudo, de toda a mágoa que causaste, assumo-o: tenho saudades tuas. Das nossas coisas, das conversas, de tudo. Hoje, já não fazem grande sentido, mas continuo a sentir falta. Não fazes ideia de como me deixaste, quando terminaste comigo. Arrasaste-me. Perdi a confiança em mim, duvidei do meu trabalho, deixei de me sentir bonito, desejável. Deixei de me arranjar e passei a não confiar nas mulheres. Mas, ainda assim, depois de todo esse mal, ainda sinto a tua falta.

Não sei se te amo ou se te odeio. Talvez as coisas não se possam separar. Eu, pelo menos, não o consigo. Peço-te desculpa, mas a tua felicidade arrasa-me. Estás feliz e eu não. Porque - e vamos lá assumir isto - ainda te amo.

Sempre disse que eras um comboio. Um TGV, sempre rápido, pelo menos a descer as escadas. Ainda o és. A tua vida é um comboio, dos rápidos, daqueles que levanta pó por onde passa. Os passageiros passam, entram, saem, mas tu segues sempre. Até ao dia em que vais descarrilar.
Eu, pelo contrário, sou um daqueles vagões a carvão, saído da Revolução Industrial. Lento, muito lento, parado. Não saio dos carris, mas também não ando. Estou parado, estagnado e sem pessoas à minha espera nas estações e apiadeiros. Por isso, este blog só podia ter este nome. O comboio que não anda. Bem vindos à minha vida.

2 comentários:

periodista disse...

Sei bem o que é tudo isto que escreves, mano. Também eu me senti a perder o juízo. Talvez ainda sinta. O trabalho, o lazer, tudo deixou de fazer sentido. Perdemos o motivo que nos fazia levantar todos os dias.

Não fiques à espera que algúem reconheça o que deste. As pessoas só dão valor a quem as trata mal. O que interesse é que tu estejas de consciência tranquila. Que saibas que deste tudo. Acredita que um dia, mais tarde, a outra pessoa vai olhar para trás e vai sentir falta do que tu lhe deste.

Nós, burros que somos, continuamos a sentir falta de alguém que nos descartou. Choramos por isso. Mas isso só mostra o nosso carácter. Mostra que somos dignos. Um dia vamos ser recompensados por tudo isto. Simplesmente porque merecemos. E vamos olhar para trás e sorrir.

Pior que sentirmos que somos apenas mais um, é sentirmos que somos menos importantes que os outros. Mas isso um dia vai mudar. Um dia vai existir alguém que nos faça sentir especiais.

«Quando alguém deixar de te dar amor, pensa que há quem viva do teu calor»

Anônimo disse...

Conhecendo bem todas as fodidíssimas fases do desmame de uma paixão gigante, acho que estás bem encaminhado. Apesar de achar que já devias estar a odiá-la um bocado mais. Todavia, a experiência diz-me que primeiro nos odiamos a nós por sermos tão fracos e patéticos. Só depois de nos perdoarmos, é que podemos começar a odiar o estafermo que nos deixou.
Lá chegarás. Até lá, cá estamos para te amparar e trocar impressões sobre a Anatomia de Grey.