É oficial. Estou a perder o juízo.
Hoje à noite, bem à noite, à porta do jornal, pareceu-me ver-te dentro de um Seat Ibiza preto, o Seat Ibiza preto do teu novo namorado. Sim, por que já arranjaste outro.
Estavas a sorrir e pareceste-me mesmo tu. É por isso que estou a perder o juízo. Porque te vejo em todo o sítio, a toda a hora. Ando obcecado com o carro, pelo que sei até já o conduzes. Presumo que a coisa seja séria.
Vejo Seat Ibizas pretos em todo o lado e em todos espreito lá para dentro, com medo de te ver lá. Mas hoje, à porta do jornal, pareceste-me mesmo tu. E estavas a sorrir. Isso é que é pior.
Tens outro. Arranjaste outro. E vou-te ser sincero: deixa-me fodido, triste e, por vezes, arrasado. Hoje, por exemplo. Sou passado para ti, não existo mais, nem nunca mais vou existir. Olha, ouvi-te agora nas escadas, bateste com a porta, chegaste a casa. Tendo em conta que o teu carro estava estacionado no mesmo sítio de ontem, só podes ter vindo no dele. O Seat Ibiza preto.
Sempre pensei que me ias procurar, desde o dia em que terminaste comigo, há ano e meio. Ias dizer o quanto sentiste e sentes a minha falta, que não arranjaste mais ninguém como eu e que sentes saudade de mim, dos meus abraços, das minhas parvoíces, de tudo. Nunca o fizeste. Começo a aceitar que nunca o vais fazer. Nada mais natural em ti, pois nunca o fizeste com todos os outros ex-namorados. Não sou mais do que eles. É assim que me sinto, apenas mais um. Quando não quiseste mais nada, despachaste-me e nunca mais me disseste nada, até me ignoraste na rua.
Apesar disso tudo, de toda a mágoa que causaste, assumo-o: tenho saudades tuas. Das nossas coisas, das conversas, de tudo. Hoje, já não fazem grande sentido, mas continuo a sentir falta. Não fazes ideia de como me deixaste, quando terminaste comigo. Arrasaste-me. Perdi a confiança em mim, duvidei do meu trabalho, deixei de me sentir bonito, desejável. Deixei de me arranjar e passei a não confiar nas mulheres. Mas, ainda assim, depois de todo esse mal, ainda sinto a tua falta.
Não sei se te amo ou se te odeio. Talvez as coisas não se possam separar. Eu, pelo menos, não o consigo. Peço-te desculpa, mas a tua felicidade arrasa-me. Estás feliz e eu não. Porque - e vamos lá assumir isto - ainda te amo.
Sempre disse que eras um comboio. Um TGV, sempre rápido, pelo menos a descer as escadas. Ainda o és. A tua vida é um comboio, dos rápidos, daqueles que levanta pó por onde passa. Os passageiros passam, entram, saem, mas tu segues sempre. Até ao dia em que vais descarrilar.
Eu, pelo contrário, sou um daqueles vagões a carvão, saído da Revolução Industrial. Lento, muito lento, parado. Não saio dos carris, mas também não ando. Estou parado, estagnado e sem pessoas à minha espera nas estações e apiadeiros. Por isso, este blog só podia ter este nome. O comboio que não anda. Bem vindos à minha vida.